segunda-feira, 25 de julho de 2011

QUANDO A ESCOLA É DE VIDRO

QUANDO A ESCOLA É DE VIDRO
                                      

                                                                        

                                                                    Trecho do livro de Ruth Rocha

Eu ia a escola todos os dias de manhã e quando chegava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro. É, no vidro!
Cada menino ou menina tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não! O vidro dependia da classe em que a gente estudava.
Se você estava no primeiro ano, ganhava um vidro de um tamanho. Se você fosse do segundo ano, seu vidro era um pouquinho maior. E assim, os vidros iam crescendo à medida que você ia passando de ano.
Se não passasse de ano era um horror. Você tinha que usar o mesmo vidro do ano passado.
Coubesse ou não coubesse.
Aliás nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros. E para falar a verdade, ninguém cabia direito.
Uns eram gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados no vidro, nem assim era confortável.
A gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava, e a gente nem podia respirar direito...
A gente só podia respirar direito na hora do recreio ou na aula de educação física. Mas aí a gente já estava desesperado de tanto ficar preso e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros.


   A METÁFORA DO VIDRO

     O hábito de ficar dentro dos vidros acaba se tornando cômodo para algums alunos, eles se adaptam à forma do vidro e acabam se sentindo até desconfortáveis fora dele. Quanto mais eles se moldam ao vidro menos trabalho dão aos adultos. Outros, porém, sofrem porque são diferentes e esta diferença não é levada em conta; eles não recebem nenhum tipo de ajuda e de estímulo.
     Mas será que é isso que se quer do processo educacional? Todo mundo pensando igual e fazendo tudo igual?
     O vidro filtra o que o professor fala e também o que fala o aluno. A comunicação e portanto as relações entre eles não são espontâneas. Ouvir é diferente de escutar ativamente, é muito diferente! Em se tratando de crianças e adolescentes, há que se fazer um esforço extra para entender exatamente o que eles querem dizer! Mesmo assim, com todo nosso esforço e atenção, quantas perguntas deixaram de ser formuladas e quantas outras deixaram de ser respondidas!
     Os alunos que ficaram tempo demais dentro de vidros adoram as aulas de educação física. O corpo do aprendiz faz parte dele, é através do corpo que ele fala, que expressa seus sentimentos e que ele aprende. Assim há muitas maneiras de aprender e todas elas devem ser colocadas à disposição do aprendiz.
     Um dia teremos a revolução dos vidros, e a diferença, não mais a mesmice, será valorizada! Nós ,educadores que somos, precisamos aprender lidar com a aceitação dessas diferenças, tentando entendê-las. É através da busca de novos caminhos que poderemos dar um novo significado à aprendizagem.

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